Gabriel voltou da Europa, sendo cumulado de honrarias. Foi nomeado prefeito de
Quito e reitor da universidade desta, exercendo sabiamente este duplo encargo.
A presidência nessa época era ocupada por Robles, uma marionete do partido de
Urbina e Gabriel García Moreno, lançou-se novamente ao jornalismo com “A
União Nacional”, criticando a tirania maçônica do governo. Seus esforços na
imprensa valeram a maioria eleitoral da oposição. García Moreno, agora
como senador, conseguiu a promulgação de uma lei, dissolvendo as lojas
maçônicas e outras sociedades secretas inimigas da Igreja.
Entretanto, os seus
sucessos parlamentares foram interrompidos por causa da guerra
com o Peru.
GABRIEL GARCIA MORENO - II
GUERRA COM O PERU – EXPULSÃO DE URBINA
(1.858 - 1.860)
Já há
muito que o Peru tinha contendas com o Equador por questões de limites de
terra. O desmando de Robles em ceder parte dessas terras litigiosas aos norte-americanos
e ingleses culminou na explosão da guerra.
A
referida Guerra, como ficou dito na postagem passada, interrompeu os sucessos
parlamentares de García Moreno, justamente porque o Congresso concedeu poderes
extraordinários ao Presidente Robles. Este, por sua vez, munido de tanto poder
sobre as casas do Congresso, empossou Urbina como um auxiliar administrativo e
militar. Urbina não se deixou esperar para abusar do novo cargo, ordenando a
dissolução do Congresso e o fuzilamento dos opositores, entre eles, Gabriel
García Moreno.
Gabriel Garcia Moreno, era patriota, sem dúvida. Mas eis aí a linha tênue que o
mundo contemporâneo não enxerga, que está entre o Nacionalismo e Patriotismo. O
Nacionalismo é um vício causado pelo amor exagerado à pátria, enquanto o
Patriotismo virtuoso é o amor moderado. E amando moderadamente e ordenadamente
a sua pátria, reconhecia que o Peru tinha razão quanto às questões de suas
cidades limítrofes, injustamente apropriada pelo seu Equador, e mais injustamente
cedidas à terceiros. Isso, mais a condenação súbita ao fuzilamento, compeliram
García Moreno a refugiar-se em Lima, capital do Peru.
Assim que teve notícias
de que o povo equatoriano finalmente se revoltara contra os desmandos de Urbina
e Robles, voltou à sua terra, em uma viagem cheia de perigos, e sacrifícios.
Através de florestas densas, desertos imensos e regiões desconhecidas,
dirigiu-se à Quito. Perdeu o guia e o cavalo. Viu-se obrigado a achar o
caminho sozinho e à pé, exposto a morrer durante a viagem ou a ser preso pelos
inimigos, até que chegou ao termo desejado.
Chegando a Tambuco, não descansou. Tomou ciência minuciosa sobre a situação e
fundou um periódico: o “1º de Maio”. Trocando a pena pela espada, pôs-se à
frente de cerca de oitocentos homens mal armados e foi ao encontro das tropas
de Urbina, e Robles, muito mais numerosas do que as suas. Deu-se a Batalha de
Tambuco. Por seis horas incessantes García Moreno sustentou o fogo contra as
tropas urbinistas infrutiferamente. Ainda que derrotado na batalha,
determinou-se a ir à capital. Quando chegou à Quito, o povo inteiro, satisfeito
por vê-lo ainda vivo, fez-lhe estrondosa manifestação.
Aliou-se ao General Guilhermo Franco em Guayaquil e com ele organizou um governo
provisório para, finalmente, derrubar Urbina, e Robles. A luta foi rápida e
Urbina, e Robles derrotados foram deportados. Guilhermo Franco, aliado de
Gabriel García Moreno, proclamou-se, então, presidente do Equador e García
Moreno, percebeu que tinha diante de si um continuador das políticas
urbinistas.
García Moreno, na qualidade de Chefe do Governo Provisório, foi à Guayaquil
conferenciar com Franco. Mal tinha ele deixado Guayaquil, quando um bando de
assassinos o perseguiu. Escapou-lhes, porém, e se refugiou em Riobamba, onde
desejava descansar. Não chegara para ele a hora do descanso. Os antigos
soldados de Urbina, estavam ali aquartelados, sob ordens de Franco. Assim que
souberam da presença de García Moreno, invadiram os seus aposentos gritando
ordens de renúncia ao cargo do Governo Provisório. “NUNCA!” respondeu García
Moreno, sem se perturbar. A guarnição prendeu-o e o seu comandante lhes deu
ordens de não o perder de vista. Os soldados, porém, se entregaram às
dissipações da noite e dos desejos da carne, e foram pouco a pouco abandonando
o posto. Ficou, no entanto, um sentinela fiel. García Moreno, dirigindo-se à
este único guarda, lhe disse imperativamente:
–
A quem fizeste juramento de fidelidade?
– Ao Chefe do Estado. – respondeu o guarda trêmulo.
– Pois o chefe de Estado sou eu; teus oficiais são rebeldes e perjuros.
Não tens tu vergonha de faltar à Deus e à Pátria? Segue-me!
O
soldado, persuadido de que estava a pecar, passou, então, a ajudar o Chefe de
Estado. Preparou a fuga de Riobamba e foi com García Moreno convocar os aliados
da vizinhança. Com catorze voluntários, voltou à Riobamba, onde acharam a
guarnição traidora embriagada e prenderam dois dos principais bandidos. Formou
com os seus catorze um conselho de guerra e os condenou ao fuzilamento por alta
traição. Todos os revoltosos, espantados pela severidade do castigo, se
sujeitaram a ele, reconhecendo a justiça da pena e se confessando antes de
receber a pena capital.
Restabelecida a ordem em Riobamba, Gabriel García Moreno continuou sua viagem à
Quito.
TOMADA DE GUAYAQUIL – GARCÍA MORENO PRESIDENTE
(1860 - 1861)
Gabriel García Moreno e Antonio Flores Jijón formaram um exército para depor
Guilhermo Franco. Escreveram com os seus soldados uma das mais heróicas páginas
da história militar das Américas. Esse grande feito marcou a expulsão de
Franco.
O
tesouro estava esgotado após tantas revoltas. García Moreno iniciou rápidas
reformas políticas na qualidade de presidente interino da República. O
Liberalismo dominante o impediu de fazer as câmaras elaborarem uma constituição
católica, no entanto, conseguiu manter a Religião Católica como oficial do
Estado e fazer aclamar Nossa Senhora das Mercês patrona do Equador. Terminados
os trabalhos constitucionais, instituiu o sufrágio universal
proporcional(assim, cada pai de família poderia ter direito a tantos votos
quantos filhos menores de idade tivesse). García Moreno foi eleito Presidente
da República pelo quatriênio que se seguiu.
PRIMEIRA PRESIDÊNCIA – CONCORDATA COM A
SANTA SÉ – REFORMAS
É interessante contar um episódio que se deu logo após esta primeira eleição.
Dona Rosa Ascasubi Moreno, fez-lhe notar que convinha oferecer um banquete
oficial aos ministros e ao corpo diplomático. García Moreno lhe respondeu que
sua pouca fortuna lhe vedava tal despesa desnecessária. Dona Rosa foi ao seu
gabinete e voltou com quinhentas piastras, que deu ao marido para que
organizasse o banquete. García Moreno as aceitou enternecido e imediatamente
saiu de casa. Mas, ao invés de encomendar o jantar, dirigiu-se ao hospital e
entregou a soma inteira às necessidades mais urgentes dos enfermos, e deu-lhes
um jantar em honra de sua eleição. Quando se encontrou novamente com sua
esposa, disse-lhe: “Pensei que uma boa refeição mais bem faria aos doentes do
hospital do que aos diplomatas.” Dona Rosa Ascasubi Moreno, que já conhecia bem
a sua generosidade, sorriu e estimou-o mais ainda desde aquela hora.
O
país ainda se encontrava em desordens e Moreno iniciou uma série de úteis
reformas. Reorganizou as repartições públicas, consertou as finanças, despediu
os empregados públicos desleixados, apurou as responsabilidades dos antigos
mandatários e procurou reformar o exército, dando-lhe diretrizes e moral
cristãs. Até então, o exército, esquecido de sua alta missão de mantenedor da
paz, se havia envolvido em política, exercendo um contínuo despotismo.
Aceitando o poder, Gabriel García Moreno fez compromisso pessoal de acabar com
a fanfarrice dos militares. “Um exército constituído como o nosso – dizia ele –
é um cancro que rói toda a nação; ou reformá-lo-ei ou destruí-lo-ei.”
Tendo sabido que o General Ayarza, chefe dos militares descontentes, urdiu uma
conspiração contra o Governo, levou-o ao quartel para açoitá-lo diante de
todos, como se fosse um simples soldado.
– Fuzilai-me! - gritava Ayarza – Não se açoita um general!
–
Não se desperdiça pólvora para fuzilar um traidor! – redarguiu Garcia Moreno
O castigo foi severo, mas o fim alcançou-se. O exército entendeu que a era dos
seus desmandos tinha passado e, com efeito, tornou a entrar na ordem.
Fez vir, então, para o Equador os religiosos jesuítas e de outras ordens,
entregando-lhes a educação, e o ensino da juventude equatoriana. Construiu
estradas e intensificou as comunicações no país. Finalmente concluiu com a
Santa Sé uma concordata das mais notáveis, por ser a mais cristã de todas as
concordatas.
CONCÍLIO DE QUITO – DERROTA DE TULCÁN – EXPEDIÇÃO DE ZAMBELLI
(1.862 – 1.863)
Com a tranquilidade da
qual a Igreja gozava, os bispos equatorianos puderam convocar o Concílio de
Quito, sob a proteção de García Moreno e o Clero do país pôde ser reformado.
Criaram-se três novas dioceses e seminários em todas as existentes.
O
sossego e a paz foram, no entanto, perturbados por um incidente com as tropas
colombianas. García combateu essas tropas, mas foi derrotado em Tulcán. Mas a
sua conduta foi tão nobre, que o general colombiano chamou-o de vencedor e
concluiu com ele um tratado.
Urbina tentou voltar ao poder a todo o custo. Havia inúmeras revoltas em
Guayaquil e o Congresso fez tudo o que pôde para impedir o presidente de agir
livremente. Gabriel García Moreno chegou a pedir a demissão do cargo, mas o
Congresso não o deixou.
Seguiu-se ainda uma guerra com a Colômbia, mas o Equador saiu vitorioso, mas
não sem ter de condenar ao fuzilamento o General Maldonado, que havia
traído as armas do Equador.
Ocorreu mais um incidente com Urbina. As tropas urbinistas apoderaram-se de um
navio à vapor inglês, o Washington, devido a um suborno de mil piastras
orquestrado entre Urbina e o comandante do navio. Apoderado do navio à vapor,
conseguiu usurpar também o Guayas, único navio de guerra do Equador, à custa da
vida dos oficiais e marinheiros. Senhores do Guayas, dirigiram-se ao
Bernardino, outro navio comerciante. Com estas três presas, refugiaram-se na
enseada de Zambelli, a sete léguas de Guayaquil, enquanto os impotentes canhões
da cidade anunciaram a perigosa tentativa de Urbina para retomar o poder.
Três dias após estes fatos, Gabriel García Moreno, que, então, estava retirado
a três léguas da capital para restabelecer a saúde seriamente comprometida,
ficou inteirado de tudo. Em um instante tomou uma resolução e assentou o seu
plano de campanha. Voltou à capital e sem comunicar o motivo, senão ao
vice-presidente, Carvajal, dirigiu-se logo à Guayaquil, percorrendo em
três dias as oitenta léguas que separam Quito desta cidade.
O
povo em Guayaquil estava sumamente agitado e não imaginava como o presidente
venceria esta empresa sem navios nem meios de os comprar. Sua curiosidade foi
logo satisfeita. Tendo entrado um navio inglês, o Talca, no porto de Guayaquil,
Gabriel García Moreno, rapidamente negociou com o comandante a sua aquisição
pelo Governo do Equador. Estava armado o plano: armar o navio mercante e só com
ele investir contra os três navios urbinistas. Conservadores e liberais
mostraram-se zelosos em ajudar o presidente, os primeiros por patriotismo e os
segundos por crer que o presidente não sairia com vida desta empresa temerária.
Reunindo os seus soldados, Gabriel García Moreno dirigiu-lhes estas palavras:
“Não quero senão homens que tenham no peito coração de bravo; passem os
valentes para a minha direita e os covardes para a esquerda!” Todos se
colocaram à direita. Satisfeito, Gabriel García Moreno escolheu duzentos e
cinquenta dentre os oficiais, e ordenou-lhes que embarcassem. Repassando
algumas palavras de confiança em Deus e de ardente patriotismo, exaltou a
coragem da pequena, mas heróica tropa. Eletrizados por aquelas nobres palavras,
os soldados deixaram o porto ao grito de “Viva García Moreno!”
Tinha à sua disposição o Smyrk, um pequeno navio à vapor que servia de
explorador. Este reconheceu e comunicou a posição exata dos inimigos. O momento
decisivo tinha chegado. O Guayas disparou seus canhões contra o Talca. Por mais
que os soldados temessem, Gabriel García Moreno ordenou que nenhum disparo
inútil fosse dado. “Punhal à mão!” – gritou o presidente e o Talca à todo
o vapor se arremeteu em direção ao Guayas, e, chegando a uma distância
conveniente, descarregou a sua artilharia. Por causa dos disparos,
uma larga brecha se abriu no navio e o Talca pôde penetrar-lhe, cortando-o ao
meio. Os revoltosos pereceram quase todos por causa do choque e os demais no
mar, tentando fugir ou em luta direta com os soldados de Gabriel García Moreno.
Capturado o Bernardino quase sem resistência, faltava alcançar o Washington,
que estava quase na praia. Urbina e Robles, que haviam banqueteado a noite
inteira, de tão estupefatos pelo soçobrar do Guayas, fugiram com toda a
tripulação do Washington, refugiando-se nas matas do litoral. Quando o
presidente aproximou-se, encontrou o navio completamente abandonado. Urbina e
Robles tiveram tanta pressa em fugir que deixaram os tesouros, e suas correspondências sumamente comprometedoras. Três dias depois não ficou um só
urbinista no Equador. Refugiaram-se todos na fronteira com o Peru, decididos a
não atentar contra o Governo tão cedo.
Os quarenta e cinco prisioneiros foram julgados pelo Conselho de Guerra, à
bordo do Talca. Dezessete foram perdoados pelo presidente, que entendeu o terem
sido forçados à traição. Os demais foram condenados ao fuzilamento, enquanto a
esquadrilha voltava à Guayaquil. Gabriel García Moreno, que levara sacerdotes
para a empresa audaciosa, quis que eles tivessem a chance de ter os seus
pecados perdoados pela justiça divina, já que a justiça humana lhes fora menos
clemente, porque não tinha a eternidade para se exercer. E assim, antes destes
traidores da pátria serem fuzilados, muitos puderam receber a absolvição das
mãos de um padre e encomendar a alma à Deus. O Smyrk foi adiante levar as novas
da derrota de Urbina e, quando o povo o avistou, lastimou, crendo que trazia as
novas da derrota de Gabriel García Moreno. Quando o povo, no entanto, avistou o
presidente, entrou em frenesi. A entrada de Gabriel García Moreno em Quito foi
um verdadeiro triunfo. O povo inteiro o proclamou herói do Equador, o homem da
Providência, o domador da Hidra Revolucionária. Uma só nuvem encobria o sol
daquele dia solene em que o povo festejava a sua libertação: Gabriel García
Moreno em breve entregaria as rédeas do governo à outrem com o fim de seu
mandato. O governo de um bom rei acaba rápido, mas o governo de um bom
presidente acaba mais rápido ainda.
GABRIEL GARCIA MORENO - III
CARRION ELEITO PRESIDENTE – NOVAS AGITAÇÕES
POLÍTICAS – VIUVEZ E SEGUNDO CASAMENTO
(1.864 - 1.868)
Jerónimo
Carrion foi eleito para suceder García Moreno e cercou-se de péssimos
elementos que o aconselharam a enviar este grande estadista ao Chile como
embaixador. García Moreno obedeceu e seguiu para a república do extremo sul.
Chegando ao porto de Lima, Peru, foi ter conferência com o presidente daquela
nação, antes de seguir viagem ao Chile. Mal havia ele subido no trem, foi
agredido por um tal de Viteri, que disparou sobre ele dois tiros de revólver,
com que foi levemente ferido na testa e na mão esquerda. Antes que tivesse partido
o terceiro tiro, García Moreno tinha agarrado o braço do meliante e
desviado a bala. Se bem que dispusesse da vida do seu inimigo, por
magnanimidade, contentou-se em apenas evitar a própria morte. Que senso de
inimigo ele tinha! Em Latim há duas palavras para designar "inimigo": HOSTESe INIMICUS. A
primeira significa o inimigo da pátria e a segunda o inimigo
pessoal. A estes segundos, Cristo mandou-nos perdoar e amar (S. Lucas, VI,
35), como fez García Moreno. Mas aos primeiros, os inimigos da Igreja, da
Religião e da pátria, devemos combater, como ele.
No Chile prestou mais um grande serviço à pátria e, concluídos todos os
trabalhos, voltou à Quito. A sua presença na capital foi o suficiente para
impedir a continuação da campanha urbinista que estava a acontecer.
A sua esposa, Rosa Ascasubi Moreno, não lhe havia dado filhos
saudáveis. Duas meninas que lhe nasceram por volta de 1.848 e 1.850,
faleceram pouco antes de completar um ano de idade e mais outras duas
gestações, que resultaram em duas meninas natimortas, privaram o lar de Gabriel
García Moreno da alegria das crianças. Mas ele sabia que em tudo isto ia
os desígnios de Deus e sabia que era a vontade d’Ele que devia prover o
lar de crianças ou privá-lo delas. Por fim, teve que sofrer a cruz da viuvez,
quando em 1.865, a sua amada esposa, Dona Rosa, faleceu aos cinquenta e
quatro anos de idade.
A virgindade é muito estimada por Deus nos jovens e nas pessoas consagradas à
Ele, como o é a castidade dos viúvos mais estimada do que o casamento. Mas São
Paulo, mesmo enaltecendo por inspiração divina a virgindade e o celibato (I
Cor., VII, 33), também disse que quem casa não peca (I Cor. VII, 28). E Gabriel
García Moreno, encontrando na sobrinha da primeira esposa, Mariana del Alcazár
y Ascasubi, a futura companheira ideal, casou-se com ela em abril de 1.866 . A
providência deu à este casal três filhas, que não chegaram a
atingir dois anos de idade, mas deu também à García Moreno, como
recompensa pelos seus esforços, um menino, Gabriel María García del Alcazár,
que viveu até 1.931, bem educado pelo exemplo do pai.
GOVERNO DE ESPINOSA – CATÁSTROFE DE IBARRA –
PRESIDENTE INTERINO
(1.867 - 1.869)
Espinosa foi eleito presidente, sucedendo Carrion e com ele os
liberais foram tendo decisiva influência no Governo. Desgostoso cquanto
à isso, García Moreno retirou-se para a sua fazenda perto de Ibarra.
Entretanto, nem assim conseguiu descansar.
Na noite de 15 para 16 de agosto de 1.868, um terremoto violento abalou a
cidade de Ibarra e toda a província deste nome. A cidade tornou-se um monte de
ruínas e uma vasta necrópole. Metade da população havia sucumbido e a outra
metade, viúva ou órfã, estava no meio dos cadáveres, e ruínas, sem pão, nem
abrigo ou esperança. Para cumular tantas misérias, bandos de infames
saqueadores, espalharam-se como aves de rapina sobre carcaças, para roubar o
pouco que este povo miserável possuía e os índios da província vizinha baixaram
das montanhas, ávidos de sangue hispânico, matando os ibarrenos que
encontrassem.
O Governo teve a feliz inspiração de recorrer à Gabriel García Moreno como
o único capaz de reparar em pouco tempo tão cruel desastre. Foi nomeado chefe
civil e militar da província de Ibarra, com aplausos de toda a nação e
vitupério dos liberais, que exprobraram a escolha de Espinosa.
Gabriel García Moreno não hesitou em sacrificar a tranquilidade de que gozava
na sua fazenda. Viajou às ruínas de Ibarra com os soldados encarregados de
perseguir os salteadores e índios, enterrar os mortos, e salvar os ibarrenos
ainda vivos. Mandou castigar severamente os delinquentes, afim de lembrar ao
povo os sentimentos de justiça e respeito à autoridade. Mas foi para com os
comerciantes, que vergonhosamente especulavam com a miséria dos habitantes, que
ele se mostrou mais inexorável e em breve tempo restabeleceu a segurança, e a
ordem pública nas cidade e província de Ibarra. Para reconstruir a cidade foi
mais difícil, como dispunha de poucos recursos públicos para alimentar os
sobreviventes famintos, mandou vir comboios de sua própria fazenda e coordenou
toda a sorte de grupos voluntários. O povo o aclamava como salvador, o que
inspirou cada vez mais a fúria e o ódio satânico dos liberais de Guayaquil, e
Quito, que organizaram, frustradamente, uma campanha contra García Moreno,
difamando-o nos jornais e fazendo pequenas rebeliões para atrapalhar o
trabalho de auxílio aos ibarrenos. O próprio povo de Ibarra retrucava-os em
outros periódicos: “... nós lhe seremos devedores da nossa ressurreição social e
política ...”
Dois meses apenas depois do desastre, García Moreno deixou Ibarra em estado
muito adiantado de reorganização e foi dar conta da sua missão ao
presidente, que lhe deu em nome de todo o Equador os maiores
agradecimentos. Enquanto isso, os urbinistas se preparavam para as eleições,
indicando Aguirre para a presidência. Vendo em perigo a sua pátria e o
Catolicismo, Gabriel García Moreno aceitou a sua indicação. Os liberais
vendo que seriam derrotados pela popularidade de García Moreno, tomaram o poder
à força, mas ele levantou as guarnições militares e ficou à testa do
Governo como presidente interino. Logo restabelecida a ordem, pediu demissão do
cargo à Convenção, que a rejeitou. Mas ele permaneceu firme e conseguiu com que
a Convenção elegesse o irmão de sua primeira esposa, Manuel Ascasubi, como
presidente interino. Este, por sua vez, o fez desde então assumir o Ministério
da Fazenda e o das Forças Armadas.
Como membro da Convenção, fez encher o Plenário com a sua palavra forte e
sadia, fazendo com que o Equador viesse a ter, finalmente, uma constituição
católica. A sua coragem foi mais longe quando conseguiu fazer aprovar o
dispositivo seguinte: “Todos os indivíduos que pertencem à uma
sociedade condenada pela Igreja, perdem, por isso mesmo, todos os direitos de
cidadão.” Acusado de tirano por aprovar este dispositivo da constituição,
respondeu com a sua frase lapidar: “Liberdade para todos e para tudo, exceto
para o mal, e para os malfeitores.”
PRESIDENTE DA REPÚBLICA PELA SEGUNDA VEZ –
INVASÃO DE ROMA – RETRATOS DE SUA PIEDADE
(1.869 - 1.875)
A Convenção elegeu-o presidente da República, ao que ele acedeu resignadamente.
Foi o primeiro a fazer o novo juramento: “Juro por Deus Nosso Senhor e estes
Santos Evangelhos cumprir fielmente o meu cargo de Presidente da República,
e professar a Religião Católica Apostólica e Romana!”
Novas revoluções vieram abalar o seu governo e uma conspiração foi
descoberta antes que o ferro assassino pudesse ferir o grande estadista.
Serenados os ânimos, iniciou uma série de reformas. Consolidou as finanças
e enriqueceu a sua pátria com grandes obras de engenharia.
Reorganizou o exército, dando-lhe diretrizes católicas.
A guarnição de Quito mudou de face de uma tal forma que os seus soldados
tornaram-se modelo de exatidão no cumprimento dos deveres e de piedade cristã.
Certa vez um tenente encontrou um maço de notas avultadas e, sem pestanejar,
entregou-as ao presidente, o qual mandou procurar o dono, e lhas entregou. O
dono do dinheiro ficou tão grato pela honradez do tenente que o quis
recompensar com alguma soma das notas e, por causa da honra, o tenente recusou.
Gabriel García Moreno, não hesitou em tornar aquele homem honrado capitão do
exército. Todos temiam a sua energia e fibra para punir o menor crime com
severidade, mas ao mesmo tempo amavam-no pela sua dedicação, e espírito de
justiça.
Reorganizou as instruções primária, secundária e superior nas bases do
Cristianismo. De 1.869 a 1.875 estendeu a sua ação, insistindo e
trabalhando com os bispos para a reforma do Clero. Transformou as prisões e
hospitais em verdadeiras missões à disposição dos padres dispostos a trabalhar
com as almas empedernidas pela doença ou pelo crime.
Nunca se esquecia das obras de Caridade, visitando hospitais e certificando-se
de que as pensões do Governo estavam a ser recebidas, e bem usadas e, quando
via que eram insuficientes, completava a soma com o dinheiro do
próprio bolso, como ficou evidente no episódio do jantar da primeira presidência.
Mostrava-se sem piedade para com todos que abusavam do poder para tiranizar ou
simplesmente enriquecer às custas dos pobres e fracos. Estes, por sua vez, tão
bem o sabiam que preferiam recorrer ao presidente antes que aos tribunais.
Em qualquer parte em que andasse, cercavam-no multidões de pobres e
perseguidos a pedir justiça. Então, como São Luiz, Rei da França debaixo do
carvalho de Vincennes, escutava-os com bondade e, achando que tinham razão,
condenava o opressor. Certa vez ordenou que um soldado desse dez mil
piastras à uma mulher que as reclamava de um rico proprietário que lhas
extorquira. O soldado pagando, perguntou como reaveria esta soma aos cofres
públicos. Gabriel García Moreno indicou o nome do proprietário como devedor
destas dez mil piastras.
As tropas piemontesas invadiram a cidade de Roma a 20 de Setembro de 1.870,
violando os direitos da Igreja. O glorioso Pontífice, então reinante, Pio IX,
conservou-se firme diante dos atentados contra a sua soberania e excomungou os
invasores. Enviou à todos os governos do mundo o seu protesto contra o
desrespeito contra os direitos da Igreja. Nenhum governo teve coragem de
protestar em nome da justiça contra o atentado de Roma. Entretanto, do
pequenino Equador fez-se ouvir a voz de um homem, Gabriel García Moreno, único
chefe de governo no mundo que teve coragem de protestar contra a
invasão, se impondo à admiração dos católicos de todo o orbe pela coragem e
amor à Igreja.
Perguntaram-lhe um dia porque não levantava um teatro em Quito. Respondeu com
vivacidade: “Levantem-no os ricos, os nobres, não me oponho; mas a Nação é
pobre e faltaria à minha consciência se me atrevesse a desviar os escassos
fundos públicos, privando a todo o povo do honesto, necessário, e útil para
empregá-lo no acessório e deleitável. O povo trabalhador não quer, nem pede
teatros; o que ele quer, e com razão, é não despenhar-se nos abismos com
os seus animais de carga no trajeto entre Quito e Guayaquil.”
Entre todas as virtudes que nele brilharam, aquela que mais naturalmente
caracterizou-o foi a fortaleza de ânimo, como depreendemos de sua vida inteira.
Contudo, não era por temperamento que ele se mostrava tão forte contra os
revolucionários, contra os maus e contra si mesmo, era para obedecer à voz
imperiosa de sua consciência reta, e esclarecida. Era por amor ao dever, o que
os seus pais lhe ensinaram desde a meninice. Era porque a sua
fortaleza estava acompanhada de prudência cristã, a qual ensinava a fazer em
tudo passar os direitos de Deus e da Igreja antes dos direitos dos homens.
Expulsou os maus do Governo, não para reinar em lugar deles, mas para
restabelecer a ordem, salvar a pátria e fazer imperar Deus no Equador.
Suportava todas as calúnias e afrontas, quando dirigidas contra ele. Escreveu
certa vez à um religioso: “Pedi à Deus que me dê bastante força, não
só para que faça bem àqueles que por palavras e escritos derramam contra mim as
torrentes de ódio, mas ainda para que me alegre diante de Deus por ter que sofrer
alguma coisa em união com Nosso Senhor. É para mim uma felicidade e uma honra
imerecida ter que suportar os insultos da revolução, em companhia das ordens
religiosas, dos bispos e do próprio Sumo Pontífice.”
O povo, por sua vez, o admirava profundamente. Diziam uns bons lavradores,
junto dos quais ia ele às vezes descansar: “Quando o presidente vinha viver
conosco, como um particular, certo é que nos corrigia e castigava, mas era um
santo: pagava-nos bem, nos premiava, rezava conosco o Rosário, explicava-nos o
Evangelho, nos fazia ouvir a Missa e nos preparava para a Confissão, e
Comunhão. Então, havia paz e abundância nestes campos, porque só a presença do
presidente desterrava os vícios.”
Fossem quais fossem as suas ocupações, fazia todos os dias trinta
minutos de meditação com os seus livros favoritos, o Evangelho e a Imitação de
Cristo. Nunca deixou de fazer os exercícios espirituais de Santo Inácio de
Loyola. Concebeu assim essa tão grande idéia da majestade de Deus e repetia
sempre que estava atribulado: “Deus não morre!” A Deus sempre atribuía todos
os bens que fazia. Certa vez no Congresso, depois de dar contas dos
progressos realizados, disse: “Se falo destes felizes resultados, não é para
glória minha, mas para a glória d'Aquele à Quem tudo devemos e à Quem
adoramos como nosso Redentor, nosso Pai, nosso Salvador e nosso Deus.”
Tinha grande respeito pelos sacerdotes. Certa vez um capuchinho
apresentou-se à ele com o solidéu na mão: “Cobrí-vos, padre!” – disse o
presidente, tirando o chapéu. “Um pobre religioso, redarguiu o padre, não pode
estar de cabeça coberta diante do presidente da República!” Ao que García
Moreno respondeu: “Não, padre, o chefe do Equador nada é na presença de um
sacerdote do Altíssimo!” E ele mesmo colocou o solidéu sobre a cabeça do frade.
Para darmos ideia adequada da firmeza da sua Fé, nada podemos dar mais probante
do que as resoluções que ele escreveu na última página de sua Imitação de
Cristo:
“Todas as manhãs farei a oração e pedirei particularmente a virtude da
humildade.
Todos os dias assistirei a Missa, rezarei o Rosário, lerei um
capítulo da Imitação e este regulamento. Cuidarei em me conservar o mais
possível na presença de Deus, sóbrio das conversas, a fim de não dizer palavra alguma
demais! Oferecerei muitas vezes o meu coração à Deus, principalmente
no começo das minhas ações. Direi cada vez que soar a hora: "Sou pior do
que um demônio e o Inferno devia ser a minha morada!" Estando no meu
aposento, nunca rezarei sentado, podendo fazê-lo em pé. Fazer atos de
humildade, beijar a terra, desejar toda a sorte de humilhações, alegrar-me,
quando censurarem a minha pessoa ou os meus atos. Nunca falar de mim, a
não ser para confessar os meus defeitos e faltas. Todas as manhãs porei por
escrito aquilo que tiver de fazer no dia. Observarei escrupulosamente as leis
em todos os meus atos. Confessar-me-ei todas as semanas. Não passarei mais de
uma hora a jogar e nunca antes das oito horas da noite.”
Gabriel García Moreno sempre seguia à risca esse regulamento. Acolitava à
Missa, preparando ele mesmo os paramentos para o uso do padre. Rezava o
Rosário com a família e os empregados, e hóspedes de sua casa. Ensinava o
Catecismo aos criados. Nunca faltava aos Ofícios de domingo. Visitava frequentemente
o Santíssimo Sacramento. Comungava todos os domingos e, às vezes, durante
a semana. Quando levavam o Santíssimo à algum doente, ele apressava-se a
levar uma vela acessa para acompanhar o seu Senhor, entre a multidão em
procissão, como mais um popular.
Depositava suma confiança em Nossa Senhora, como denota a proclamação da Virgem
das Mercês como patrona do Equador, após a sua vitória em Guayaquil.
Trazia sempre o escapulário e o terço, que rezava todos os dias. Quis entrar
também na CONGREGAÇÂO MARIANA, havendo, porém, em Quito duas, uma para pessoas
de distinção e certa riqueza, e outra para operários, entrou na segunda,
afirmando: “O meu lugar é no meio do meu povo!”
De sua devoção para com SÃO JOSÉ deu prova inscrevendo a sua festa nos dias
feriados da nação. Mas mais notável foi a sua devoção para com o SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS e bem o provou pela Consagração da República à Ele.
Essa consagração lhe valeu a coroa do martírio!
GABRIEL GARCIA MORENO - IV
CONSAGRAÇÃO DA REPÚBLICA AO SAGRADO CORAÇÃO
DE JESUS
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Quadro do Sagrado Coração, com o qual Dom José Inácio C. y Barba e Gabriel García Moreno fizeram a consagração do Equador |
Em 1.874 o Concílio Nacional de Quito lavrou um decreto que mandava
consagrar o Equador ao Sagrado Coração de Jesus, por direta inspiração de
García Moreno. Este, por sua vez, apresentou ao Congresso Nacional uma moção,
pedindo que o Estado se unisse à Igreja nesse ato solene. Esta moção foi votada
por unanimidade, tal era o espírito dos senadores e deputados durante o seu governo.
Assim, marcou-se a data da Consagração Oficial da República ao Sagrado Coração
de Jesus. Na festa do Sagrado Coração de Jesus, em julho de 1.874, a cerimônia
teve lugar em todas as igrejas da República. Em Quito a cerimônia foi
imponente. O arcebispo, Dom José Inácio Checa y Barba, grande amigo do
presidente, pronunciou a fórmula de consagração diante do quadro do Sagrado
Coração em nome da Igreja Católica e da Hierarquia Eclesiástica do Equador. Em
seguida, Gabriel García Moreno, cercado de todas as autoridades do Governo
Equatoriano a pronunciou em nome da Nação. Tal foi o entusiasmo produzido por
esta grande manifestação de Fé dos equatorianos, que diversos membros do
Congresso pensaram em erigir uma igreja ao Sagrado Coração, sendo, porém,
este projeto adiado por razões econômicas até a presidência de Luís Cordero, em
1.884.
Sem dúvida muitos viram naquele momento o cumprir da profecia de Nossa Senhora
do Bom Sucesso à Irmã Mariana de Jesus em 1.594: “No século XIX haverá um
presidente verdadeiramente cristão, varão de caráter(...). Ele consagrará a
República ao Divino Coração de meu Filho Santíssimo e esta consagração
sustentará a Religião Católica nos anos posteriores, os quais serão aziagos
para a Igreja.”
A Consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus, somada à proibição das
sociedades secretas, ocorrido com a nova constituição, valeu à García
Moreno e ao seu amigo, o arcebispo de Quito, a condenação ao punhal
traiçoeiro da Maçonaria, e consagração de ambos como apóstolos de um ideal. A
própria profecia de Nossa Senhora do Bom Sucesso já rezava que este presidente
verdadeiramente cristão que haveria no século XIX, seria alguém “(...) a quem
Deus Nosso Senhor dará a palma do martírio na praça onde está este meu
convento. (...)” Era evidente que a Virgem Santíssima falava de Gabriel García
Moreno e que ele, juntamente com Dom José Inácio, seriam vítimas da Maçonaria.
TERCEIRA ELEIÇÃO COMO PRESIDENTE - MARTÍRIO
Em 1.873 o Equador gozava de uma paz tão grande que Gabriel García Moreno, em
um gesto de magnanimidade, concedeu anistia a todos os exilados políticos. Não
é difícil de imaginar, que alguns, senão muitos destes, ao invés de ter
gratidão para com o presidente, preferiram confabular contra ele juntamente da
Maçonaria. Esse ódio só cresceu após a Consagração da Pátria ao Coração Divino
e García Moreno foi jurado de morte pelas lojas maçônicas.
Em maio de 1.875, Gabriel García Moreno foi eleito presidente da República pela
terceira vez. Os exilados anistiados, juntaram-se formalmente com a Maçonaria e
começaram a vomitar toda a sorte de ataque contra o presidente da nação.
Os ataques foram mais ferozes do que nunca.
Sabendo de todos os perigos que corria, García Moreno aceitou a eleição e,
antes de assumir mais um mandato, pediu auxílio espiritual e conforto ao
Vigário de Cristo, Pio IX: “Eu desejo receber vossa benção antes daquele dia,
para que tenha a força e a luz de que tanto preciso para conseguir até o fim
ser um fiel filho de Nosso Redentor e um leal, e obediente servo de Seu
Infalível Vigário. Agora que as lojas maçônicas dos países vizinhos, instigadas
pelos alemães, estão a vomitar contra mim toda a sorte de insultos atrozes
e horríveis calúnias, agora que as lojas maçônicas estão secretamente a
planejar o meu assassinato, eu tenho mais do que nunca a necessidade da
proteção divina para que possa viver, e morrer em defesa de nossa Santa
Religião e da amada República que uma vez mais sou chamado a governar.”
Os amigos do presidente tentaram-no convencer a se precaver por causa das
conspirações urdidas pelos inimigos da Igreja e da Pátria, mas ele simplesmente
respondeu-lhes que só temia a Deus, e só a Deus.
Em 2 agosto de 1.875, avisaram-lhe que Faustino Rayo estava entre os conjurados
que maquinavam o seu assassinato. Gabriel García Moreno afirmou que Rayo estava
acima de qualquer suspeita, porque era católico. O santo presidente ignorava
que as más companhias podem fazer de um homem honrado e católico um malfeitor,
e assassino e assim sucedeu. Faustino Rayo era colombiano naturalizado
equatoriano, a quem García Moreno havia perdoado naquele incidente das tropas
de Riobamba com o Comandante Cavero, fazendo dele chefe militar e ordenando-lhe
muitos assuntos de suma importância. Tal era a confiança que García Moreno
tinha em Rayo, que várias vezes faziam rondas noturnas durante o tempo em que
García Moreno chefiava exércitos para lutar contra Urbina e Robles. No entanto,
desprezando a amizade do presidente, Rayo aceitou uma pequena soma de dinheiro
dada pela Maçonaria em troca da vida do amigo.
No dia da Transfiguração, 6 de Agosto do ano de 1.875, Gabriel García Moreno
assistiu à Santa Missa e comungou. Não sabia, não o podia saber, mas era a
última vez que assistia à Santa Missa e comungava. Em breve, veria a Deus e não
teria mais necessidade dos Sacramentos.
Fora da Igreja, Faustino Rayo o esperava junto com outros conjurados. Mas a
grande multidão que estava fora da Catedral impediu-os de perpetrar o plano
diabólico.
Uma hora da tarde, Gabriel García Moreno desceu do Palácio do Governo para
visitar o Santíssimo Sacramento na catedral, conforme era o seu costume.
Em breve, moraria na casa do Senhor a quem visitava todas as tardes. Fora da
catedral, os conjurados ficaram impacientes pela demora. Faustino, então,
entrou e chamou o presidente sob o pretexto de ter assuntos urgentes no
palácio.
Subindo as escadarias do palácio, recebeu de Rayo um golpe de facão no ombro.
Gabriel García Moreno tentou alcançar o revólver para se defender, mas foi
atingido na cabeça e logo chegaram os outros sicários que atiraram nele.
Gravemente ferido, o presidente tentou-se dirigir para o lugar de onde partiam
os tiros, mas Rayo o perseguiu e deu-lhe novo golpe no braço direito. Novos
tiros dos conjurados e o santo presidente tombou desde o peristilo do
palácio, a uma altura de cerca de quatro a cinco metros. Faustino
Rayo, possuído de uma ferocidade sem par, desceu as escadas e desferiu os mais
tremendos golpes no já moribundo presidente da Nação.
– Morre, algoz da liberdade! – gritou o traidor.
– DEUS NÃO MORRE! – exclamou o mártir num supremo esforço.
Os soldados do palácio acorreram e Rayo foi morto ali mesmo, enquanto o
presidente foi transportado à catedral, e foram perseguidos os
conjurados.
O pároco deu-lhe a Absolvição Sacramental e persuadiu-lhe de que perdoe os seus
assassinos. “Já o fiz, padre!” Disse o grande estadista e entregou a sua
alma à Deus.
O seu corpo havia recebido catorze golpes de facão e seis projéteis de
revólver. O enterro assumiu proporções grandiosas. A mensagem que leria no
Congresso naquele dia foi lida pelo Ministro do Interior, ouvida por todos com
recolhimento.
Quando celebrava os ofícios de Sexta-Feira Santa de 1.877, ao beber do Cálice
de vinho para a purificação, Dom José Inácio Checa y Barba, Arcebispo de
Quito, grande amigo de Gabriel García Moreno, exclamou: “Meus filhos, fui
envenenado!” Recebeu a Absolvição Sacramental de um sacerdote e expirou. Haviam
posto estricnina no seu cálice.
HOMENAGENS PÓSTUMAS
O
Congresso aclamando-o como “regenerador da Pátria, mártir da civilização
católica”, mandou gravar isto em seu túmulo e erigiu uma estátua
dedicada à ele com a seguinte inscrição: ”À García Moreno, o mais nobre
dos filhos do Equador, morto pela causa da Religião e da Pátria, a República
reconhecida.” Também o Santo Padre Pio IX fez erigir no Colégio Pio-Latino uma
estátua ao herói, onde se vê gravado: ”Ao guarda fiel da Religião, ao zeloso
promotor dos estudos, ao dedicadíssimo servo da Santa Sé, ao justiceiro
vingador do crime.” Leão XIII confirmou os elogios e foi presenteado pela
viúva, Dona Mariana Del Alcazar y Ascasubi Moreno, com um quadro em tamanho
natural de Gabriel García Moreno, segurando a constituição da Pátria.
Em
idos de 1.980, ao exumarem o corpo do grande estadista, encontraram somente e
só os seus ossos como era de esperar-se. Contudo, um volume esbranquiçado
aparentemente de músculos chamou a atenção entre as costelas do cadáver. Era o
coração do presidente. Ele que tanto amou o Sagrado Coração de Jesus! Ele que
via o Coração vivo e palpitante na Hóstia Santa que recebia a cada Comunhão!
Ele que visitava Jesus Sacramentado todas as tardes! Ele que conservou a chama
da Fé acesa nos corações dos equatorianos, consagrando a República ao Sagrado
Coração de Jesus, teve o seu próprio coração conservado incorrupto durante mais
de um século.
Ao ver este milagre, os responsáveis pela exumação, talvez por curiosidade,
exumaram também o corpo do arcebispo de Quito e viram que estes dois corações
que uniram-se para consagrar o Equador ao único Coração adorável também estavam
unidos na incorrupção.
Por certo tempo, exibiram o coração de Dom José Inácio na mesma capela onde
está exposto o quadro do Sagrado Coração de que se serviram ele e o presidente
santo para consagrar a pátria. Mas, agora, até o coração do bispo está unido ao
degredo de um vidro de formol, ao lado do coração de Garcia Moreno, proibidos
de serem expostos pela hierarquia eclesiástica.
Também o Papa Paulo VI, quiçá por não suportar os ideais anti-liberais do
santo, devolveu o quadro doado pela viúva à Leão XIII à igrejinha onde
estão os restos mortais de Gabriel García Moreno.
Ele foi cortado do mundo dos vivos pelo punhal traidor da Maçonaria, que muitos
querem fazer-nos crer como associação idônea, mas o seu exemplo fica bem
patente aos olhos da humanidade como que pedindo aos católicos que sigam a
mesma senda de virtude, honra, saber, nobreza, patriotismo e Fé religiosa, do
MAIOR ESTADISTA DO SÉCULO XIX!
FIM