terça-feira, 30 de abril de 2013

A estiagem em curso no Nordeste brasileiro: Notas




A região Nordeste do Brasil se vê às voltas com o problema das secas novamente. Todos os esforços prometidos pelos poderes públicos para minorar as repercussões negativas do fenômeno natural, quando não contraproducentes ou inexequíveis, não passam de tardios paliativos para os desdobramentos mais críticos da seca: promessas de indenização pelas perdas, caminhões-pipa aqui e acolá para dessedentar os sertanejos e seus esquálidos rebanhos e coisas do tipo. Medidas contracíclicas para prevenir os males decorrentes da seca? Nada. Afinal de contas, manter os sertanejos reféns da insegurança econômica conseqüente às agruras da seca garante a longevidade da Síndrome de Estocolmo eleitoral movida a assistencialismo que possivelmente reconduzirá Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto no ano que vem.


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Nem todos se deixam iludir pelo jogo que os poderes públicos fazem com as mazelas da seca para perpetuação no poder das oligarquias de sempre: na cidade de Campina Grande, um criador de rebanhos protestou despejando as carcaças dos seus animais abatidos pelos rigores da seca diante do Banco do Nordeste.


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Ainda no que toca a Campina Grande, a cidade é notória no Brasil pela sua saudável rebeldia ante os desmandos dos poderes centrais. Em meio ao Nordeste subjugado pela dialética suborno/chantagem do assistencialismo do Partido dos Trabalhadores (PT), Campina Grande destaca-se pela altivez com que manifesta sua resistência ao projeto político dos petistas nas eleições presidenciais. No entanto, não é de agora que o município paraibano expressa sua tenacidade ante os desmandos governamentais. Ao leitor, sugere-se tomar ciência da Revolta do Quebra-Quilos.

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Ao contrário do que muitos pensam, clima semiárido não precisa ser sinônimo de miséria generalizada. No mundo inteiro há cidades prósperas erguidas em meio a climas secos, caso da virtual totalidade do território do Estado de Israel; de Salt Lake City, nos Estados Unidos; e das cidades brasileiras de Petrolina e Juazeiro, pólos de fruticultura exportadora. Desde que atentando zelosamente para os limites estipulados pela Sã Doutrina católica, a exploração econômica das zonas tórridas do Nordeste deve levar em conta as enormes potencialidades e os singulares desafios da natureza local, e não transplantar acriticamente o modelo de dinâmica econômica das regiões de clima ameno para o sertão. Uma boa maneira de se fazer isso passa certamente pela releitura (sob o prisma da Santa Fé) dos pretéritos casos de empreendedorismo local bem sucedido, como o de Delmiro Gouveia.

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A peleja do nordestino com a seca rendeu às artes brasileiras um amplo e vistoso patrimônio literário, musical e pictórico. Dentre todos os artistas que colheram inspirações nos dramas existenciais impostos ao sertanejo pelas severas inclemências das estiagens, Mundividência destaca Elomar Figueira Mello e Xangai.

Elomar Figueira Mello

Elomar, a quem Vinícius de Moraes chamou de Príncipe da Caatinga, é um inusitado compositor cujas criações mesclam o linguajar do homem simples e rústico do sertão com versos alexandrinos, adornando-os com arranjos melódicos que combinam a música popular tradicional do Nordeste, a música medieval ibérica, e a música renascentista. Xangai é o soul mate elomariano por excelência: seu timbre peculiar parece ter sido feito sob medida para interpretar o cancioneiro do trovador-repentista.

Feitas essas observações introdutórias, Mundividência compartilha três composições de Elomar que expressam o desalento do sertanejo com a seca, e também a relação deste com as aguardadas chuvas:

                                                                        CAMPO BRANCO



                                                    CURVAS DO RIO








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