Jean-Baptiste Malou
[Tradução: Gederson Falcometa]
A leitura da Sagrada Bíblia em língua
vernácula (I)
I.
Doutrina da Igreja Católica a respeito do
uso dos livros sagrados
Nós acreditamos que as Sagradas Escrituras foram dadas a
Igreja para instruir todos os fiéis, e que foram particularmente confiadas aos
pastores, afim de que as conservassem intactas e puras em meio às vicissitudes
e revoluções das sociedades humanas, afim de que esses fizessem dela a base de
seu ensinamento. Acreditamos que contém a maior parte das verdades reveladas, e
que a Igreja docente, isto é, o corpo dos pastores, o sucessor de Pedro como
chefe, recebeu a missão de interpretá-la de forma autêntica por meio da
tradição vivente, por ela conservada em seu próprio seio em virtude da
autoridade recebida do Salvador. Acreditamos que as Sagradas Escrituras em
várias circunstâncias são suficientes por si só, para confundir a heresia se
entendidas no sentido atribuído a elas pelos SS. Padres e conformemente às
decisões anteriores da Igreja; mas acreditamos ainda com Tertuliano que não são
susceptíveis de resolver definitivamente e absolutamente alguma controvérsia
quando separadas do princípio de autoridade e se lhe determine o sentido
segundo opiniões preconcebidas ou segundo sistemas humanos; neste último caso,
elas para servir-nos da expressão enérgica daquele Doutor Africano, servem
apenas para turbar o estômago e o cérebro [1]. Acreditamos que a Escritura não
contém todas as verdades reveladas, mas acreditamos que a sua leitura seja
necessária aos pastores de almas e que possa ser útil a todos os fiéis que são
preparados para esta mesma leitura; acreditamos que jamais Deus ordenou a todos
os cristãos de lerem a Sagrada Bíblia e atingir com os seus próprios esforços o
conhecimento da revelação; acreditamos que os fiéis lucram com as Sagradas
Escrituras se colocam atentamente e docilmente o ouvido ao ensinamento dos seus
pastores, e acreditamos que a Igreja teve legítimos motivos para estabelecer e
modificar as leis disciplinares ou os costumes locais que restringiram ou
encorajaram em épocas diferentes o uso dos livros sagrados entre os leigos.
Aqui de forma breve, aquilo que acreditamos, aqui a verdadeira e própria doutrina da Igreja; para compreender lhe os princípios,
é necessária a ciência de uma série de fatos fundamentais que os protestantes
ignoram ou perdem de vista e que é essencial recordá-los para provar aqui sumariamente
que as crenças da Igreja não são arbitrárias, mas se ligam concretamente ao
berço do cristianismo e as instituições fundadas pelo Salvador.
O primeiro fato que retenho relevante constatar é o
método usado pelo divino Mestre no ensinamento da fé; ele desde o princípio
poderia consagrar o uso da leitura dos livros santos com o seu exemplo,
propondo-o aos seus discípulos, e ao invés difundiu a própria doutrina a viva
voz e formou os apóstolos por meio do ensinamento oral. Seguiram eles, o
projeto da sua Igreja, predisse a eles as tempestades que essa deveria sofrer
um dia, falou a eles de todos os interesses do seu povo, de todos os dons do
seu amor, e impôs a eles o dever de anunciar a fé no mesmo modo com o qual eles
mesmos a haviam recebido; por disposição da sua providência a nova aliança foi
não só anunciada a viva voz, mas foi também concluída e sancionada antes que um
só livro do Novo Testamento tivesse sido escrito.
A Igreja mesma foi fundada sem a ajuda de tais livros; o
Salvador lhe havia escolhido o chefe, preparado os elementos, revelado as
crenças antes de subir ao céu, e depois da sua gloriosa ressurreição confere a
Pedro [2] e aos apóstolos a jurisdição que havia a eles prometido [3], e tendo
sentando-se a destra do Pai os enviou segundo a sua promessa o Espírito
consolador, que ensinou a eles toda a verdade [4]. A lei evangélica, promulgada
no dia de Pentecostes, existia assim toda inteira no ensinamento oral da Igreja
representada pelo colégio apostólico e que, comunicada a viva voz aos primeiros
discípulos do Evangelho, foi anunciada a todas as nações da terra, frutificando
entre essas ao cêntuplo.
Os livros sacros foram escritos depois que a fé já havia
sido anunciada no mundo inteiro [5]; a sua promulgação foi lenta e tardia, o
seu uso se introduziu sucessivamente nas Igrejas. O primeiro livro sacro do
Novo Testamento foi escrito apenas oito ou dez anos após a morte do Salvador, e
o último cerca de sessenta anos mais tarde, pelo fim do primeiro século da era
cristã. Inicialmente as Igrejas não receberam o depósito completo das Sagradas
Escrituras; no início do IV século se contavam sete livros divinos do N.T. a
qual origem sacra não era universalmente estabelecida [6].
Aqueles livros dos quais a origem é indubitável não
tinha um forte caráter de utilidade geral; alguns, como os Evangelhos, embora
fossem de extremo interesse para a Igreja universal, foram redigidos sobre a
requisição de alguns singulares fiéis: S. Mateus escreve para os Judeus
convertidos, S. Marcos sobre requisição dos fiéis de Roma, S. Lucas para
fornecer uma ajuda aos gentios, S. João sobre requisição dos seus amigos [7];
outros livros, quais as Epístolas de São Paulo, foram endereçados a igrejas
particulares ou a simples bispos para resolver dificuldades locais ou para conselhos
circunstanciais; nenhum deles possuía características de uma lei universal,
promulgada na origem em todas as Igrejas como único código do povo cristão.
Todavia, longe de nós o pensamento de atribuir ao acaso
a publicação dos livros sacros, ou de negar o fim providencial que presidia a
sua redação! Nós acreditamos com a Igreja que o Espírito de Deus,
inspirando-lhes, queria oferecer aos fiéis uma lei divina e universal que
servisse como tutela e salvaguarda da fé em todas as idades; mas ousamos afirmar
sem temor de sermos refutados que este fim não se concretiza na forma dos
livros divinos, nem nas circunstâncias do seu nascimento [8]. Tais livros
haveriam tido o caráter concreto de lei única e universal se os apóstolos, ao
invés de promulgar lhe sucessivamente e isoladamente, e a segunda exigência dos
tempos e dos lugares, lhe houvessem redigidos em comum e lhes houvessem
promulgado sucessivamente de comum acordo como o único código da Igreja, como a
única fonte de instrução cristã.
Deus, que havia confiado a Igreja o depósito da
Tradição, não permite que uma promulgação solene das Escrituras viesse de
qualquer modo a desmentir o seu primeiro dom com o consignar a Sacra Bíblia uma
destinação que ela própria não tinha; Ele deu muito maior evidência a instituição
do ministério apostólico e a primeira pregação do Evangelho, mais que a
publicação dos livros santos, e isto para manifestar de modo factual a sua
vontade formal de submeter ao juízo da Igreja a interpretação dos livros
inspirados, e de fazer depender da autoridade dos pastores o fruto conseguível
com o seu estudo. A prática de quinze séculos junto ao testemunho da Bíblia e a
doutrina dos SS. Padres atestam no mundo mais explícito esta vontade do
Salvador; mas ainda na ausência destas provas evidentes, o conjunto dos fatos
originais que acabamos de expor o provaria com a máxima evidência, adquirindo
toda a força de uma apologia em favor da disciplina atual da Igreja; e em
efeito, é fácil deduzir-lhe os princípios fundamentais da nossa crença e das
leis disciplinares que nos regem.
Em primeiro lugar precisa concluir-se que o uso dos
livros santos não é uma necessidade absoluta no ensinamento da fé, que, além
disso, qual lhe possa ser a utilidade: o comportamento dos apóstolos e as
relações existentes entre os livros santos e as primeiras revelações orais não
consentem a mínima dúvida a este respeito. Os apóstolos não se serviram dos
livros santos para chamar os idólatras à fé, e os seus discípulos, um século
depois da morte do Salvador, anunciavam ainda a viva voz o Evangelho aos povos
bárbaros, que não tinham noção alguma das letras humanas [9]. O ensinamento
oral das verdades reveladas, não apenas precedeu a existência das escrituras,
mas os escritores inspirados se serviram da Tradição divina como de uma fonte.
Os homens que o Espírito Santo iluminou com a luz celeste afim de que
colocassem por escrito as vidas admiráveis e as doutrinas sublimes do Salvador
tirara da Tradição da Igreja uma grande parte dos fatos e das verdades que
lemos nos seus escritos [10]; e atingindo a sacra doutrina a esta fonte divina,
eles não a teriam drenado, como afirmam os protestantes, mas a tem fecundado
acrescentando as verdades já notáveis, as verdades que Deus a eles inspirou. A
própria linguagem em uso na Igreja, e o sentido teológico dos termos que
empregavam podem ser determinados apenas pelo ensinamento oral dos apóstolos.
Então, é necessário considerar as Escrituras como um potente sustento, como uma
sanção duradoura da Tradição divina, e não como fonte única de toda a verdade
cristã.
É impossível afirmar que a Tradição, assim intimamente
unida a Escritura desde o princípio, dela tenha sido separado mais tarde; nos
tempos sucessivos a sabedoria divina não destruiu a instituição originária de
Jesus Cristo, o qual quer que a letra morta da Sagrada Bíblia receba a vida da
Tradição oral e dependa da vontade da Igreja, afim de que, em todos os tempos
pudesse se discernir o verdadeiro sentido da revelação, do sentido que a
heresia ou o capricho dos homens lhes atribuía. A Tradição divina foi então
destinada no princípio a existir perpetuamente ao lado das Escrituras enquanto
expressão vivente do pensamento dos escritores sacros, para atribuir aos livros
santos o seu verdadeiro sentido dogmático, mais ou menos como as vozes são
colocadas ao lado das consoantes para conferir seu som e formar o sentido
gramatical da frase. A Tradição, embora tenha ainda como escopo o conservar
algumas verdades reveladas da qual em vão se buscariam os traços nos nossos
livros santos, sobretudo, devem servir-nos para determinar a doutrina das
Escrituras, da qual é por assim dizer a fonte e a vida; e se ainda não
adicionasse alguma verdade essencial, a verdade contida nos nossos livros
santos, não obstante, seria necessária a Igreja para iluminar as Escrituras e
como regra infalível das nossas crenças. Nós não consideramos a Tradição como
um ensinamento suplementar, totalmente distinto do ensinamento dado
pelas Escrituras, mas como um ensinamento por assim dizer colateral àquele da
Sagrada Bíblia, sob certos aspectos mais abundantes e sempre muitos preciosos,
porque oferece a dúplice vantagem de fixar o sentido das Escrituras e de
conservar-nos um grande número de verdades não colocadas por escrito. Se os
ministros protestantes têm retido que a Tradição divina para nós não fosse
outra coisa, que um conjunto de verdades não escritas, que os fiéis tem sempre
professado na Igreja, fizeram uma ideia falsa da nossa doutrina; porque os
nossos teólogos não ensinaram nunca que a Tradição apostólica fosse um
ensinamento suplementar (no sentido que tais ministros dão a este termo) ao
ensinamento das Escrituras. [11]
Destes fatos originários podemos ulteriormente deduzir
que o Salvador e os apóstolos nunca impuseram aos fiéis a obrigação de ler a
Sagrada Bíblia. E que os judeus e os gentios receberam da boca dos apóstolos e
dos seus primeiros discípulos as verdades da fé, enquanto os cristãos de hoje
não poderiam mais ser instruídos naquela mesma fé, escutando atentamente o
ensinamento dos Pastores aos quais o Salvador conferiu a missão de anunciar a
palavra sacra e de continuar a obra iniciada no dia de Pentecostes? Por qual
curiosa revolução a pregação da Fé, que Deus colocou em relação com a conversão
do mundo, tornou-se insuficiente para ensinar os fiéis, as vias da salvação e
as regras da vida cristã? As vias do céu abertas pelo Salvador talvez estejam
fechadas no dia de hoje? As condições colocadas para obter a salvação talvez
estejam mais rigorosas? No nascimento da Igreja poderia nos salvar acreditando
nas verdades a viva voz e obedecendo aos Bispos depositários da Tradição… por
que hoje não se pode mais? Os ministros protestantes nos explicam de graça, os
motivos que atualmente obrigam os seus fiéis a ler a Sacra Bíblia sob
pena de danação [12]!… A Reforma talvez tenha recebido o poder de
abrir e fechar a seu gosto as portas do céu? Talvez, não nos imponha, com a sua
privada autoridade, um julgo insuportável que os apóstolos não nos impuseram e
que foi desconhecido por quinze séculos de Igreja?
Mas a Igreja Católica acredita que nos possa salvar
acreditando nas verdades anunciadas a viva voz e obedecendo aos Bispos
depositários da tradição e, mais sabiamente que os reformadores, retém assaz
menos importante fazer ler a Sacra Bíblia, que fazer observar as leis impostas
a nós por Deus, e é persuadida que a Bíblia seja de proveito para todos os
fiéis, muito mais por meio do ensinamento dos pastores, para os quais, na
verdade, foi escrita e aos quais foram especialmente confiadas, que por meio de
uma leitura pessoal: o Apóstolo ensinou que toda Escritura inspirada é útil
para ENSINAR, para REPREENDER, para CORRIGIR e para CONDUZIR a justiça e a
piedade [13], isto é, para dirigir os pastores no governo de suas greis.
Qualquer que sejam as ideias que os protestantes fizeram da hierarquia sacra, é
de fé para eles como para nós que não todos os fiéis são doutores, apóstolos,
intérpretes, pastores [14] e que não todos foram estabelecidos pelo Espírito
Santo para apascentar a grei de Jesus Cristo [15]: segue-se evidentemente que
não todos receberam as Escrituras para ensinar, repreender, corrigir e
conduzir, e que os fiéis podem contar com a sabedoria e o zelo dos Bispos
que Deus constituiu chefes de seu povo para conhecer as Escrituras e conformar
as suas crenças e os seus costumes a lei do Senhor. Santo Ambrósio chama a
Bíblia de o livro sacerdotal, e Santo Agostinho dizia que o homem
que se apoia sobre a fé, a esperança e a caridade, não tem necessidade da
Escritura QUE PARA INSTRUIR OS OUTROS [16]. A doutrina do Apóstolo era então
aquela dos Santos Padres, e deve ainda ser a nossa.
Também os protestantes aceitariam tal doutrina, se a
necessidade imperiosa de negar a autoridade da Igreja e o depósito da Tradição
não lhes forçasse de qualquer modo a desconhecê-la; remove aos protestantes o
interesse pela sua seita, fazei com que possam defender a sua causa sem
substituir a Sacra Bíblia pela Igreja e o juízo individual pela autoridade
espiritual, e não terão mais dificuldade a reconhecer conosco que, embora se todos
os homens são obrigados a aderir a verdade revelada, a obrigação de conhecer
tal verdade por meio da leitura dos Livros sacros, existe apenas para os
pastores; não é a sã razão, nem a evidência da verdade que lhes obriga a
atribuir a leitura pessoal da Bíblia uma similar importância, verdadeiramente
ridícula. Um pouco menos preocupação, um pouco mais de calma faria com que
compreendessem aquilo que nós compreendemos que isto, a leitura, é
somente um meio para alcançar o conhecimento da verdade, o qual por outro lado,
se manifesta em várias formas diferentes. Que importa em ultima análise a maneira com
a qual a verdade penetra a alma dos fiéis? No momento no qual estes gozam
da consolação das escrituras [17], que consiste na meditação
das promessas de Deus, o Espírito Santo que inspirou a Sacra Bíblia, talvez não
tenha chegado ao fim, e as Escrituras não são, talvez, estadas de proveito para
todos os cristãos? Faz desaparecer o prejulgamento protestante, e a necessidade
de ler a Bíblia será reduzida a seu justo valor: a se aconselhar a muitos como
um meio útil, mas não a se imporá a todos como dever essencial; se reconhecerá
que o ensinamento oral dos pastores faz com que os fiéis se beneficiem das
verdades contidas na Bíblia, e que uma só coisa é verdadeiramente necessária em
matéria de ensinamento cristão e de sacras Escrituras, e isto é, conhecer a
verdade e aderir a esta [18].
Reduzida ao valor de meio material, a
leitura da Sagrada Bíblia não é mais objeto de uma lei divina, mas de uma lei
disciplinar da Igreja, a qual varia com a necessidade dos fiéis e a exigência
dos tempos. A Igreja, para regular-lhe o uso, não faz outra coisa, que empregar
as regras da prudência cristã; qual que seja a sua decisão, essa obedecerá a
palavra de Deus se distanciar das almas frágeis e carnais o terrível risco de
transformar o nutrimento substancial das Escrituras em veneno mortal, e se
impedirá com leis severas e inflexíveis os excessos que a heresia em todos os
séculos nos oferece, como um desolador espetáculo.
[Tradução do francês para o italiano: C.S.A.B.]
[CONTINUA]
Fonte: Progetto
Barruel
NOTAS:
[1] Tertull. De praescript. cap. XVI: «Nihil
proficit congressio Scripturarum nisi plane ut stomachi quis ineat eversionem
aut cerebri.»
[2] Joan. XXI. 15.
[3] Matth. XVI. 18.
— XVIII 18.
[4] Act. I.
[5] Rom I. 8. Col I. 6.
[6] Euseb. Hist. eccl. lib. III. c. 25. p. 118. Os
livros deuterocanônicos do N.T. são as Epístulas de S. Tiago, de S. Judas, a
segunda de S. Pedro, a segunda e a terceira de S. João, a Epístola aos Hebreus
e o Apocalipse; as dúvidas levantadas contra estes livros desapareceram na
Igreja Católica no V ou no VI século, bem que o canône das Escrituras não tenha
sido promulgado nesta época como lei universal. Estas dúvidas revividas pelos
primeiros reformadores foram abandonadas pelos protestantes modernos, que
rejeitam apenas os livros deuterocanônicos do Antigo Testamento.
[7] «Matthaeus apud Hebraeos propria eorum lingua conscriptum
evangelium edidit, dum Petrus et Paulus Romae Christum praedicarent et
ecclesiae fundamenta jacerent.» Euseb. Hist. l. V. c. 8. p. 219. ex
Irenaeo. — «Primum Evangelium scriptum est a Matthaeo, qui illud hebraico
sermone conscriptum Judaeis ad fidem conversis publicavit…
Tertium Evangelium Lucae, in gratiam gentilium conscriptum.» Euseb.
ibid. l. VI. c. 25. p. 290. ex Origene. — «Marcum Petri sectatorem enixe
orarunt (Romani), ut doctrinae illius, quam auditu acceperant, scriptum
aliquod monumentum apud se relinqueret. Nec prius destiterunt, quamhominem
expugnassent, auctoresque scribendi illius, quod secundum Marcum
dicitur, Evangelii exstitissent.» Euseb. ibid. lib. II. cap. 15. p. 64. —
«Aiunt Joannem ab amicis rogatum… res a Servatore gestas… in
Evangelium suum conjecisse.» Euseb. ibid. l. III. cap. 24. p. 117.
[8] Não afirmamos que «os apóstolos redigiram as suas
obras por conta própria e não por ordem de Deus», como assegura Oster, pg.150,
mas que o Espírito Santo comunicou as próprias luzes na ocasião de determinadas
necessidades dos fiéis, sem manifestar a própria vontade formal de impor
qualquer livro a cada fiel como uma lei imutável. Em outros termos a
promulgação dos livros do N.T. não foi acompanhada da solenidade que circunda a
promulgação da lei antiga sobre o monte e a instituição do ministério da palavra
sob a lei da graça.
[9] S. Ireneo. lib. III. c. IV. n. 2. p. 178. Gentes
barbarae sine litteris fidem didicerunt.
[10] Luc. I. 2 e 3.
[11] Esta observação responde em parte a questão que
Oster nos endereçou nestes termos: «Quais são as verdades essenciais que a
tradição acrescenta a Escritura?» p. 148- Indicaremos estas verdades em outro
lugar, mas ainda que não tivesse alguma, a tradição seria necessária como regra
interpretativa. Esta observação responde ainda a dificuldade colocada por
Monod, pg. 174.
[12] É uma opinião de Girod, na pg. 36 do seu Avvertissement.
[13] II Tim. III.
16.
[14] I Cor. XII. 29.
— Ephes. IV. 11. — I Tim. I 7.
[15] Act. XX. 28.
[16] «Homo fide,
spe, caritate subnixus, non indiget Scripturis,nisi ad alios instruendos.» De
doct. christ. l. I. c. 49.
[17] Rom. XV. 4.
[18] Os ministros protestantes, quando estão sem a sua
preocupação sectária, chegam a alcançar a verdade; aqui como um deles reconhece
o princípio que nós apenas estabelecemos: «A multidão inumerável de pessoas,
afirma que foram convertidas a Deus, o foram por meio da Bíblia SEJA diretamente pela
sua leitura, SEJA indiretamente por meio da pregação da
verdade que ela encerra» Boucher, pg 89. «Não nos podemos recusar a admitir,
diz (pg.193), que a inteligência da doutrina de Deus, é apenas um meio para
chegar ao fim, que é compreender a vontade de Deus.» — «Sem dúvida se pode
chegar ao conhecimento do Salvador apenas com a pregação!» Girod p.
36. Neste caso, que é feito do dever absoluto de ler a
Bíblia e de procurar por si mesmo, as verdades da salvação?
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