quarta-feira, 24 de abril de 2013

Liberalices Aquosas

Peter Brabeck-Letmathe, atual presidente do conglomerado Nestlé: ele quer privatizar a água

O acesso seguro, confiável e constante à água potável é de importância fundamental não só para a sobrevivência e desenvolvimento das coletividades humanas em si, mas para cada único indivíduo em particular. Assim sendo, o acesso estável à água potável é dessemelhante ao acesso direto à terra, o qual pode estar restrito à maioria sem que isso implique em escassez socialmente generalizada de gêneros alimentícios, como o provam as safras sempre crescentes e a produtividade ascendente dos rebanhos animais, para não mencionar a vertiginosa redução das doenças relacionadas à desnutrição e à subnutrição. Dito isso, é preciso que haja da parte das autoridades e das classes dirigentes uma sincera preocupação, calcada no respeito ao Princípio da Subsidiariedade, em diligentemente massificar o acesso a esse bem precioso entre aqueles que não contam com ele. Afinal, dar de beber a quem tem sede é uma das obras de misericórdia corporal propugnadas pela Santa Igreja.


O liberal, dogmatizador por excelência da oscilação dos juízos morais humanos em detrimento da estabilidade das certezas éticas perenes que a Igreja comunica aos homens da parte do Espírito Santo de Deus, e ávido da prosperidade a qual ele reputa ser a raison de vivre da ordem civil, ignora toda a lei que não seja a lei positiva no que respeita ao acesso à água, e espera condicionar tal legislação aos ditames da lei da oferta e da procura, de modo que a água potável seja comercializada na mesma base vigente para recursos como a paçoca e a bolinha de gude. Um emblema dessa mentalidade uniforme e invariavelmente financista típica dos liberais contemporâneos é o sr. Peter Brabeck-Letmathe, atual presidente do conglomerado Nestlé. Para conter uma possível futura crise planetária de desabastecimento hídrico, o CEO propõe que seja estabelecida uma cota diária de gratuidade da água para cada pessoa do mundo (cerca de 30l), teto cujo rompimento implicaria em cobranças adicionais que não apenas daquelas taxas necessárias para o transporte e tratamento da água: todo consumo diário superior ao patamar dos 30l seria precificado em si mesmo, à parte dos encargos habituais de armazenamento e acessibilidade. Em suma, a privatização mundial dos recursos hídricos.

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O absurdo da privatização dos recursos hídricos é mais patente se levarmos em conta que dia a dia surgem tecnologias poupadoras de água, além da melhoria e do barateamento dos processos de dessalinização da água marítima. Fora isso, a descoberta de novos mananciais parcamente explorados no mundo todo elevam absurdamente as estimativas da disponibilidade de água.


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A água só pode ser privatizada caso ela seja antes propriedade estatal. Assim sendo, é de se supor que esteja em curso alguma iniciativa que torne os recursos hídricos posse dos Estados, os quais depois poderiam vendê-la para os apaniguados de sempre, os metacapitalistas, entre os quais decerto inclusos estão os alto executivos da Nestlé entusiastas das mudanças drásticas no status quo referente à utilização da água.

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