quinta-feira, 25 de abril de 2013

Heróis, ilustres desconhecidos dos nossos tempos


Nesses tempos de conformismo generalizado, condicionado quase que exclusivamente à satisfação dos apetites morais mais baixos, satisfação essa garantida com sobra pela TV e outras mídias, o senso de renúncia e sacrifício ficou tão mitigado que mesmo a simples tolerância e ao tédio e ao silêncio momentâneos são insuportáveis, como bem o atesta a pandemia dos onipresentes celulares com fones de ouvido.

Fora isso, as sucessivas arremetidas iconoclastas das escolas nihilistas não deixaram incólumes as mais admiradas biografias dos grandes de outrora, de modo que o heroísmo passou a ser visto (injustamente) cada vez mais como cortina de fumaça para nada desinteressados propagandismos políticos e/ou religiosos.

Assim sendo, o heroísmo ficou cada vez menos convidativo para o cidadão médio, o que possibilitou às pretensões ideológicas mais execráveis enxertar sem resistência no rol dos paladinos da virtude os garotos-propaganda das mais absurdas convicções. Aliás, é nessa lógica que também está inserido o fenômeno atual da exaltação desmedida de pessoas notórias por coisa alguma que não pelo régio e perpétuo tributo ao escândalo e aos vícios. Desse modo, tem-se o pior dos cenários: o esquecimento dos legítimos heróis em detrimento de radicais inescrupulosos como Olga Benário ou de prostitutas de gabolice editorial como Bruna Surfistinha.

Para amortizar o débito de justiça para com aqueles que foram capazes das maiores renúncias em proveito dos seus semelhantes e/ou para glória de Deus, convém que não os esqueçamos e perpetuemos seus exemplos de vida, e não só: deve-se colocá-los no pedestal dos padrões a que todos deveriam almejar. No espírito de fidelidade a essa proposta reparatória, Mundividência reproduz uma breve biografia do grande Marechal Joaquim Xavier Curado, personagem de invulgar relevo em nossa história que infelizmente é pouco lembrado: 





Joaquim Xavier Curado nasceu em Meia Ponte (Pirenópolis), na Província de Goiás, em 2 de dezembro de 1746, vivendo toda sua infância naquela localidade. Porém logo que ficou órfão de pai, partiu ainda adolescente para o Rio de Janeiro e assentou praça no Exército como soldado nobre. Em 1774, depois de receber a patente de alferes, marchou com o Exército expedicionário para o Rio Grande de Sul com a finalidade de expulsar  os espanhóis que ocupavam parte do nosso território.

Terminada a campanha do sul, foi designado para defender os habitantes entre as capitanias de São Paulo e Minas Gerais, que sofriam com uma horda de selvagens a saquear fazendas, e conseguiu restabelecer a paz na região.

Pelos bons serviços prestados, o vice-rei o louvou e agradeceu, em relatório de 20 de agosto de 1789, graduando-o no posto de tenente-coronel de infantaria, para depois o designar em uma missão especial junto à corte de Lisboa, porém seu navio foi aprisionado em alto-mar por corsários franceses e Xavier Curado obrigado a decorar e destruir os documentos que carregava.

Preso numa masmorra na região de Biscaia, na França, conseguiu fugir e chegar meses depois a Lisboa, onde cumpriu finalmente sua missão. De volta ao Brasil, foi promovido ao posto de coronel e nomeado governador de Santa Catarina em 8 de dezembro de 1800, entregando o cargo em 5 de julho de 1805.

Ainda em 1805, Xavier Curado retornou ao Rio de Janeiro e solicitou sua reforma do Exército, que lhe foi negada pelo vice-rei Marcos de Noronha, Conde dos Arcos, que o promoveu a brigadeiro.

Em 13 de maio de 1808 foi graduado no posto de marechal-de-campo e dois anos depois partiu para o Rio Grande do Sul, à disposição do general Diogo de Sousa, Conde do Rio Pardo, governador local, que recebera a ordem de invadir o Uruguai. Formaram-se então duas colunas invasoras, uma comandada pelo general Marques de Sousa e a outro por Xavier Curado, que saíram vitoriosas e renderam sua promoção ao posto de tenente-general, em 13 de maio de 1813.

Entre os anos de 1815 a 1820 participou da campanha militar contra José Gervasio Artigas, militar uruguaio que entrou em guerra contra o exército luso-brasileiro que invadira a Banda Oriental. Na batalha de Catalán, em 1817, Xavier Curado foi agraciado com a Comenda da Torre e Espada, pelos atos de bravura no posto de 2º comandante do Exército.

Como o Marquês de Alegrete, comandante supremos do Exército no sul, afastara-se da luta, assumiu Xavier Curado o comando e estabeleceu seu quartel nas imediações do Passo-do-Lageado, onde lhe chegou às mãos o diploma de Comendador da Torre e Espada, Lealdade e Mérito, conferido por D. João VI.

Retornando ao Rio de Janeiro, conseguiu organizar uma tropa de seis mil soldados e assim expulsar o general Avilez Zuzarte, comandante das tropas portuguesas, dando sustentação ao Dia do Fico, sendo por isso agraciado, das mãos de D. Pedro II, com os títulos de Barão e Conde de São João-das-Duas-Barras.

Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1830.

Em 2006 o deputado Leandro Vilela apresentou Projeto de Lei nº 6.917, para inscrever o nome do general Xavier Curado no Livro dos Heróis da Pátria.

Veja tambémDom Joaquim Xavier Curado e a política bragantina para as províncias platinas (1800-1808) - Um estudo de Francisca Nogueira de Azevedo sobre o conflito nas provícias do sul onde a pessoa de Xavier Curado foi essencial para o desfecho do caso.

Bibliografia:

  • ALENCASTRE, José M.P. '''Anais da Província de Goiás'''. São Paulo, Editora Ipiranga, 1979.
  • CURADO, Agnelo A.F. '''Fleurys e Curados'''. Goiânia, Editora Piloto, 1988.
  • ÉLIS, Bernardo. '''Marechal Xavier Curado, Criador do Exército Nacional'''. Goiânia, R&F Editora, 2005.
  • JAYME, Jarbas. '''Cinco vultos meiapontenses'''. Goiânia, Edição Revista Genealógica de São Paulo. 1943.
  • JAYME, Jarbas. '''Famílias Pirenopolinas (Ensaios Genealógicos)'''. Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973. Vol. V.
  • JAYME, Jarbas. '''Esboço Histórico de Pirenópolis'''. Goiânia, Editora UFG, 1971. Vols. I e II.
  • LARA, Diogo M.A. '''Memória da Campanha de 1816'''. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, ns.º 26 e 27, p. 123-170 e 263-320, ano 1845.
  • PALACIM, Luis. '''Goiás 1722 - 1822'''. Goiânia, Editora Oriente, 1976.
  • POHL, Johonn Emanuel. '''Viagem no interior do Brasil'''. São Paulo, Editora Edusp, 1976.
  • SAINT-HILARE, Auguste. '''Viagem à Província de Goiás'''. São Paulo, Editora Edusp, 1976.
  • SILVA, Alfredo P.M. '''Os Generais do Exército Brasileiro - de 1822 a 1889 - Traços Biográficos''', Coleção:  Biblioteca Militar, Volumes XXXI e XXXII, Rio de Janeiro, 1940, 2ª edição.
  • TELES, José Mendonça. '''A Imprensa Matutina'''. Goiânia, Editora CERNE, 1989.

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